Envelhecer é uma conquista, mas também é um desafio. O corpo se torna mais lento, a pele não possui mais o brilho do vigor da juventude, os pés não suportam grandes distâncias, os olhos não enxergam tão nitidamente como no passado, e a memória, por vezes, nos pregam algumas peças.
Envelhecer também é dar adeus para muitos que nos acompanharam na jornada: amigos, esposas, maridos, filhos, animais de estimação. Muitos vão embora antes de nós, e a velhice se transforma em algo individual, uma experiência solitária.
A solidão na velhice é lenta. Ninguém para conversar, ninguém para reclamar, ninguém para amar, nenhum amigo para ser espelho de nossa própria existência. Nosso corpo, antes um altar de possibilidades, sonhos e vigor, se transforma em um cantinho de lembranças.
Um cantinho de amor, se por sorte, você ainda tiver sua família por perto. Envelhecer no seio familiar é o conforto que um corpo cansado mereceria depois de percorrer uma longa estrada. Mas, infelizmente, nem todos contam com essa sorte, ou nem mesmo tiveram essa possibilidade de escolha.
Mesmo quando falta o afeto daqueles que cultivamos no passado, o corpo e a memória ainda estão lá. A vida ainda existe, e mesmo que a velhice exista, ainda há vida em todos os nossos cantinhos.
Por sorte, acharemos um lugarzinho para envelhecer e reunir tudo o que sobrou dessa viagem de tantas fases, momentos, emoções, dores, arrependimentos, alegrias, tristezas e saudades.
Acharemos também aqueles que poderão cuidar de nós e transformar nossas fraquezas em partes que se encaixam na ordem natural da vida.
Ao dormir, voltaremos às nossas lembranças, em um cantinho que é só nosso.
Um cantinho de vida há ali. Um Cantinho São Vicente das memórias que eu vivi.
Crônica do escritor, André Barreto.