O “Cantinho São Vicente” iniciou suas atividades no final da década de 1940, quando a cidade de Monteiro Lobato ainda era chamada de Buquira, por iniciativa de um grupo religioso pertencente à Congregação dos Vicentinos de Paula e integrado a Paróquia Nossa Senhora do Bonsucesso.
No dia 01 de janeiro de 1974, adquiriu caráter jurídico com o nome de Sociedade de Obras Religiosas de Monteiro Lobato. Até os dias atuais, carinhosamente, o lugar é conhecido no município e região, com o nome “Cantinho São Vicente”, que, segundo conta no histórico da entidade, foi dado por uma senhora chamada, Benedita Faria, que procurou “um cantinho na casa de São Vicente”.
Com tantos anos de existência, o “Cantinho São Vicente” faz parte da história e do imaginário da cidade de Monteiro Lobato. Alguns personagens do cotidiano lobatense que já viveram no “cantinho” no passado, foram eternizados nas poesias e crônicas do escritor Ernesto do Rosário Manzi, publicadas no livro “Villa do Buquira, hoje Monteiro Lobato”, conforme podemos ler a seguir:
No final dos anos 40, durante uma reunião da Congregação Mariana e com a presença de alguns vicentinos, como de costume a porta permanecia aberta e inesperadamente, surge um visitante desconhecido. Ele identificou-se como Gildo Pontes e disse ser militar da reserva e expedicionário da Segunda Guerra Mundial na condição de membro do regimento de Caçapava. Contou que quando reformado, escolheu nossa terra para morar por ter sido a terra dos seus antepassados, quando ainda se chamava Villa do Buquira.
Ao retirar-se discretamente antes do término da reunião, prometeu comparecer na próxima, quando apresentaria uma mensagem para os participantes. Cumprindo o prometido, ele apareceu demonstrando sentir-se à vontade e nos convidou para um bate-papo depois do encerramento. Todos ficaram curiosos. Preciso à moda militar, foi logo ao assunto, contando que ao visitar o nosso pároco, foi informado da inexistência da vila vicentina na paróquia, apesar de haver um grande terreno ocioso ao lado do salão paroquial, recentemente construído.
Animado com a resposta, apresentou a ideia de uma construção coletiva. Seguiu mais além, prometeu levá-la e apresentá-la ao nosso grupo.
Houve um debate onde a adesão mostrou-se unânime. Várias sugestões foram apresentadas quanto à forma de angariar fundos, tais como quermesses e leilões, e se iniciar uma campanha. Essa notícia logo se espalhou pela cidade e, pondo mãos à obra, as ofertas de prendas logo surgiram. Em poucos meses o conjunto habitacional já se encontrava no alicerce.
No entanto, com o decorrer do tempo, chegou-se à conclusão da falta de recursos para prosseguir a obra. Por sugestão de José Pedro da Silva, um dos líderes vicentinos, ao verificar o grande número de candidatos à moradia, resolvemos pedir a colaboração dos próprios interessados. Ele recorreu ao provérbio: “De grão em grão a galinha enche o papo” e “Do couro sai a correia”, expressão muito usada pelos tropeiros.
Consequentemente apareceram os candidatos à moradia trazendo algum dinheirinho, ainda que se tratasse de moedas retiradas do cofrinho. Foi o que ocorreu com o solteiro e idoso, Luiz Feliciano, que as trouxe envolvidas num lenço.
Até então e apesar de várias sugestões, a futura moradia ainda não tinha nome. Foi quando apresentou-se a candidata Benedita Faria, viúva, doente e sem recursos, justamente quando a diretoria estava em frente à construção.
- “Pelo amor de Deus, me arrume um cantinho para eu viver!”
Coube ao idealizador Gildo Pontes a resposta:
- “A primeira casinha vai ser da senhora. O nome da vila será “Cantinho de São Vicente!”
Crônica de autoria do escritor, Ernesto do Rosário Manzi, extraída do livro “Villa do Buquira, hoje Monteiro Lobato”, Editora Uirapuru, 2018.
Morando no Cantinho de São Vicente
Perto ou longe de parente
Somos tratados como gente
Só pedir, vem café quente
Contando causos, o tempo passa depressa
Histórias de pescador tem à beça
Quem mora aqui não tem pressa
E só sai para pagar promessa
A gente tem roupa lavada e passada
Sopas e bolos, pão e torrada
Quem nos serve é a mãe, não a patroa
Como é bom viver com gente boa!
Poesia de autoria do escritor, Ernesto do Rosário Manzi, extraída do livro “Villa do Buquira, hoje Monteiro Lobato”, Editora Uirapuru, 2018.